"O céu, de um tom homogeneamente acinzentado, impede os feixes de luz de o penetrar.
Um véu branco cobre a cidade que é assolada por um vento gélido que serpenteia por todas as ruas, becos, jardins e estradas, como uma criança curiosa. Os nossos corpos não são barreiras à sua vontade de conhecer e trespassa-nos como lâminas finas.
Descemos juntos a rua ladeada de árvores despidas de folhagem, revelando os seus braços contorcidos que ostentam, em dias de glória, enormes copas repletas de vida.
À nossa direita a estrada permanece vazia. As janelas da fileira de casas que correm rua abaixo estão encerradas, formando um maciço único como uma muralha. Não há manifestação de outras presenças a não ser as das forças naturais.
A passos sincronizados e firmes, de longos e pesados agasalhos e de mãos dadas, abrimos caminho pelo manto de neve. Apesar das negras luvas de couro impedirem que as nossas carnes se toquem, a energia flúi, mistura-se e propaga-se para o exterior tal como o sentimento que nos leva a unir as mãos.
O vento investe frontalmente contra nós… (talvez revoltado por sermos os únicos presentes) e o teu cachecol voa, deixando a descoberto o teu pescoço, caindo sobre a neve. O vento assobia como se reivindicasse o sucedido através de um sorriso de uma criança traquina.
Sem quebrares o elo formado pelas nossas mãos viras-te para trás para colheres o bem perdido e sem notar sinto-me de repente puxado por ti. O movimento foi brusco…perdi o equilíbrio ao rodar 180º e caí de joelhos sobre a neve. As nossas mãos contudo não se desprenderam.
Ergues-te após te teres debruçado sobre as pernas para alcançares o cachecol. Voltas-te novamente, a fim de retomarmos a nossa marcha rua abaixo e ficas de frente para mim. Ao veres-me ajoelhado, como se dum cavaleiro se tratasse ansiando pelo toque da espada real nos ombros, os teus olhos sorriem. Afagas-me o cabelo, enrolas o teu cachecol no meu pescoço e em instantes elevas-me e dou conta de mim rodeado pelos teus braços e tocado na face pelos teus lábios.
Os meus olhos de espanto fecham-se e reabrem a sorrir. A expressividade de ambos deixa escapar a mensagem. Agora sou eu que deposito os meus braços sobre a tua anca. Aproximo o meu rosto do teu, disposto a satisfazer o pedido emitido pelo teu olhar. Os nossos narizes roçam um no outro, as pálpebras fecham-se lentamente. O vento deixa de se ouvir dando lugar ao som das batidas dos nossos corações que parecem procurar o mesmo compasso.
Por fim, …o desejo é concretizado… os nossos lábios tocam-se e dançam a valsa do beijo, um ritual do amor que estamos condenados a cumprir como forma de agradecer ao destino por nos ter unido.
Só tu...para me pôr neste estado! (...)
Amo-te
R. E."
Um véu branco cobre a cidade que é assolada por um vento gélido que serpenteia por todas as ruas, becos, jardins e estradas, como uma criança curiosa. Os nossos corpos não são barreiras à sua vontade de conhecer e trespassa-nos como lâminas finas.
Descemos juntos a rua ladeada de árvores despidas de folhagem, revelando os seus braços contorcidos que ostentam, em dias de glória, enormes copas repletas de vida.
À nossa direita a estrada permanece vazia. As janelas da fileira de casas que correm rua abaixo estão encerradas, formando um maciço único como uma muralha. Não há manifestação de outras presenças a não ser as das forças naturais.
A passos sincronizados e firmes, de longos e pesados agasalhos e de mãos dadas, abrimos caminho pelo manto de neve. Apesar das negras luvas de couro impedirem que as nossas carnes se toquem, a energia flúi, mistura-se e propaga-se para o exterior tal como o sentimento que nos leva a unir as mãos.
O vento investe frontalmente contra nós… (talvez revoltado por sermos os únicos presentes) e o teu cachecol voa, deixando a descoberto o teu pescoço, caindo sobre a neve. O vento assobia como se reivindicasse o sucedido através de um sorriso de uma criança traquina.
Sem quebrares o elo formado pelas nossas mãos viras-te para trás para colheres o bem perdido e sem notar sinto-me de repente puxado por ti. O movimento foi brusco…perdi o equilíbrio ao rodar 180º e caí de joelhos sobre a neve. As nossas mãos contudo não se desprenderam.
Ergues-te após te teres debruçado sobre as pernas para alcançares o cachecol. Voltas-te novamente, a fim de retomarmos a nossa marcha rua abaixo e ficas de frente para mim. Ao veres-me ajoelhado, como se dum cavaleiro se tratasse ansiando pelo toque da espada real nos ombros, os teus olhos sorriem. Afagas-me o cabelo, enrolas o teu cachecol no meu pescoço e em instantes elevas-me e dou conta de mim rodeado pelos teus braços e tocado na face pelos teus lábios.
Os meus olhos de espanto fecham-se e reabrem a sorrir. A expressividade de ambos deixa escapar a mensagem. Agora sou eu que deposito os meus braços sobre a tua anca. Aproximo o meu rosto do teu, disposto a satisfazer o pedido emitido pelo teu olhar. Os nossos narizes roçam um no outro, as pálpebras fecham-se lentamente. O vento deixa de se ouvir dando lugar ao som das batidas dos nossos corações que parecem procurar o mesmo compasso.
Por fim, …o desejo é concretizado… os nossos lábios tocam-se e dançam a valsa do beijo, um ritual do amor que estamos condenados a cumprir como forma de agradecer ao destino por nos ter unido.
Só tu...para me pôr neste estado! (...)
Amo-te
R. E."