O concerto de ontem foi simplesmente excepcional. Adorei estar bem perto de uma mulher que transborda talento e carinho como a grande Maria Rita.

Tocou-me especialmente a sua entrega ao público e a forma única e versátil com que interpretou as composições que nos ofereceu nesta noite.

Destaco alguns momentos que me emocionaram particularmente:

- Toda a encenação do tema "Santa chuva", em que a cantora, num clima melancólico e de arrependimento, começa a cantar, iluminada em tons de azul, de um dos lados do palco,a estrofe (o vídeo que "postei" ontem quando cheguei é deste momento):

"Vai chover, de novo/Deu na tv/Que o povo já se cansou/De tanto o céu desabar/E pede a um santo daqui/Que reza ajuda de Deus/Mas nada pode fazer/Se a chuva quer é trazer/Você pra mim/Vem cá que tá me dando/Uma vontade de chorar/Não faz assim/ Não vá pra lá/Meu coração vai se entregar/A tempestade."

No momento seguinte passa para o lado oposto, já iluminada em tons laranja e encarnando uma personagem mais revoltada e irónica, responde com uma linguagem corporal fortíssima:

"Quem é você pra me chamar aqui/Se nada aconteceu?/Me diz?/Foi só amor? /Ou medo de ficar/Sozinho outra vez?/Cadê aquela outra mulher?/Você me parecia tão bem/a chuva já passou por aqui/Eu mesma que cuidei de secar/Quem foi que te ensinou a rezar? /Que santo vai brigar por você?/Que povo aprova o que você fez?/Devolve aquela minha tv /Que eu vou de vez/ Não há porque chorar/ Por um amor que já morreu/Deixa pra lá/Eu vou... adeus/ Meu coração já se cansou de falsidade..."

- A intepretação de uma das minhas favoritas: " Encontros e Despedidas" , letra já presente no meu eu;

- a alegria no tema "A Festa" (Me abraça, me aperta/Me prende em tuas pernas/Me prende, me força, me roda, me encanta/Me enfeita num beijo" e "Ciranda do mundo" (Ciranda por ti/Ciranda por mim/Roda na ciranda/que é pro não virar pro sim)

-a irreverência de "A Minha Alma (a Paz Que Eu Não Quero)" (A minha alma/está armada e apontada/para a cara do sossego/pois paz sem voz/Não é paz, é medo) e "Muito pouco" (Mas muito pra mim é tão pouco /E pouco é um pouco demais /Viver tá me deixando louca /Não sei mais do que sou capaz /Gritando pra não ficar rouca /Em guerra lutando por paz/ Muito pra mim é tão pouco /E pouco eu não quero (mais)...)

- a doçura de "Casa Pré-fabricada" (Canto que é de canto que eu vou chegar/Canto e toco um tanto que é pra te encantar/Canto para mim qualquer coisa assim sobre você/que explique a minha paz/Tristeza nunca mais...) e "Menininha do portão" (Todo o dia no seu portão/Vejo o seu olhar/Bate forte meu coração/Mas não sei contar/E eu pego a viola/Faço um verso feito um trovador/Quem sabe, então/Você me dê.../Me dê o seu amor)

- o intimismo e a espiritualidade bem presente em "Sobre Todas as Coisas" (Pelo amor de Deus/Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem/Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém/Abandonado pelo amor de Deus)

- o momento que me fez chorar com "Não vale a pena" (Ficou difícil /Tudo aquilo, nada disso/Sobrou meu velho vício de sonhar /Pular de precipício em precipício /Ossos do ofício/Pagar pra ver o invisível/ E depois enxergar /Que é uma pena /Mas você não vale a pena /Não vale uma fisgada dessa dor /Não cabe como rima de um poema /De tão pequeno /Mas vai e vem e envenena/E me condena ao rancor /De repente, cai o nível /E eu me sinto uma imbecilRepetindo, repetindo, repetindo/ Como num disco riscado/O velho texto batido /Dos amantes mal-amados /Dos amores mal-vividos /E o terror de ser deixada /Cutucando, relembrando, reabrindo /A mesma velha ferida /E é pra não ter recaída /Que não me deixo esquecer-..que é uma pena...mas você na vale a pena...)

Ficaria aqui a escrever e a cantar horas seguidas, mas não só ficava o post maior da história como correria o risco de ser despedido....;-)
Um abraço a todos!!