"When I first saw you, I saw love. And the first time you touched me, I felt love. And after all this time, you're still the one I love. Looks like we made it. Look how far we've come my baby."
Assim cantavam, olhos nos olhos, Gonçalo e Matilde olhando as estrelas e tecendo planos para um futuro a dois. Estávamos no primeiro dia do mês de Setembro e as doze rosas que G. lhe havia oferecido falavam por si. Cada uma teria uma estória para contar. Estórias contadas e cantadas numa só voz. A voz universal do primeiro amor.
Nessa noite, em que tudo estava mais que perfeito, M. e G. sentiram-se completos e felizes. Haviam chegado onde nunca imaginariam chegar. Ultrapassando todos os obstáculos, lutando com os fantasmas do passado de um e de outro, ignorando as tentações do presente e com uma fé inquestionável neste amor, completavam um ano de namoro. Um ano em que se amaram como nunca antes tinham amado alguém. Um ano em que se conheceram, cresceram e viveram este grandioso sentimento na primeira pessoa.
O que Matilde e Gonçalo ignoravam era que, meio ano depois, estariam separados. Cada um trilharia o seu caminho e entraria no mundo adulto sem a companhia do outro.
Coube a G., a difícil tarefa de colocar um fim a este relacionamento que já não o fazia feliz. Tudo aquilo que construíra com M. deixara de fazer sentido. M. mudara bastante desde que entrara para a faculdade e a forma de ver o mundo distanciava-se cada vez mais da sua. Foi nesta altura, que G. conheceu alguém a quem não poderia ficar indiferente, alguém com quem poderia ser cem por cento ele mesmo. Alguém que questionaria para sempre aquilo que o unia a M.
Ainda assim, não deixara de amá-la, e tomar a decisão de pôr término a esta relação, custava-lhe bastante. Uma noite e aproveitando que as coisas estavam um pouco tremidas, G. reúne coragem e tem a conversa que poria fim aos planos sonhados de um casamento e de uma filha que nunca viria a nascer.
Seguiram-se períodos difíceis, nos quais, apesar de tudo, tentaram manter uma amizade e guardar apenas as boas recordações. No entanto, e como seria de prever, este contacto teria de igual forma, os dias contados.
As marcas desta história ficaram porém, gravadas no livro das vidas de Gonçalo e Matilde. Prova disso, é a carta que G escreve, anos mais tarde, à melhor amiga de sempre:
"Querida Margaret,
Dizer-te que estou triste e que me sinto impotente, não explica exactamente aquilo por que estou a passar. Posso antes dizer-te que pelo meu rosto correm agora lágrimas, esvaziando o rio que sinto correr dentro de mim.
À minha frente, espalhadas na cama, algumas fotografias. Nelas vejo uma mulher, num dia especial da sua vida. O dia em que se vestiu imaculadamente de branco. Do cabelo apanhado cai suavemente sobre os ombros, um véu, que lembra uma pétala gigante que a cobre, mas não esconde a face habilmente maquilhada e o encantador sorriso.
Este é certamente o dia mais feliz da sua vida. Tudo está como sempre havia imaginado: a família completa, os amigos de ambos, a cerimónia, o bolo, o baile, a noiva e o noivo.
A noiva é Matilde. O noivo certamente, não sou eu...
Sei que a escolha foi minha e que também eu, segui o meu caminho. Mas não terei, por isso, direito a sofrer? Não serão legítimos os soluços que insistem em sair do meu peito? Será que, por algum momento, ter-se-á lembrado do nosso amor e dos inúmeros planos sobre este dia? Será que ainda se lembra daquele beijo trocado numa manhã de final de Verão?...Será?"
Todas estas e muitas outras questões ficaram por responder já que M. e G. não voltariam a falar. Uma coisa é certa, as areias daquela praia, jamais voltariam a ser o cenário de um amor tão puro como aquele vivido pelos nossos personagens. O amor de Matilde e Gonçalo.
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