o MeU eU e Os OuTrOs EuS (eL mEu Jo I eLs AlTrEs JoS)

setembro 10, 2005

"A Escola florescerá como um pomar na Primavera. Não pensem que nos vão destruir"- frase de uma criança sobrevivente



Há um ano atrás, quando cheguei ao Aeroporto de Catânia (de regresso a Lisboa, após 2 semanas na Sicília) dei-me conta, ao comprar o jornal, do terror que Beslan, uma cidade da Ossédia do Norte, estava a viver.

Passado um ano, sentado no meu sofá, vejo a minha atenção captada por um documentário que acabara de começar. O tema abordado era precisamente o drama vivido na Escola nº 1 de Beslan.

Todos sabemos ter-se tratado de mais um acto terrorista. Um acto reivindicado por rebeldes Tchechenos contra a política de Vladimir Putin.

Após algumas lágrimas vertidas, ao ouvir os depoimentos das crianças que sobreviveram ao massacre, resolvi procurar artigos sobre esta tragédia. Encontrei um de Teresa Sousa, no Público. Passo a transcrever alguns excertos com os quais me identifiquei.


"- Mãe, eles não nos vão matar, pois não?'. O menino morreu. A mãe sobreviveu para viver e testemunhar a mais terrível das dores, que os terroristas de Beslan multiplicaram por mil, numa orgia de ódio e de violência que nunca conseguiremos explicar ou entender. É este o nosso mundo. Foi o maior atentado desde o 11 de Setembro. Nas margens da Europa, onde a Europa é mais vulnerável. Nas margens da democracia, onde a democracia é cada vez mais frágil. O novo terrorismo global só tem espaço para a violência cega, a mais incompreensível e inaceitável das violências. Não tem espaço para a negociação. (...)
(...)Podem as democracias limitar-se à solidariedade? Estamos condenados a aceitar a força como o único instrumento e a única solução para combater o terrorismo? Fazendo tábua rasa das causas, aceitando todos os métodos, apoiando todos os regimes?
(...)Entre a defesa dos seus belos princípios democráticos e a gelada "realpolitik", as democracias arriscam-se a perder a alma e a racionalidade. (...)

Não há bom nem mau terrorismo, nem há justificação para ele em nenhuma circunstância. Mas não querer olhar as suas causas é condenarmo-nos a ficar à sua mercê. É preciso libertarmo-nos da retórica da "guerra ao terror" de George W. Bush ou da fria "realpolitik" de Jacques Chirac. É preciso examinar tanto as causas como os efeitos do terror global. Perceber que isso não é desculpá-lo mas um passo fundamental para combatê-lo. O caminho errado é aceitar tudo em nome desse combate. (...)"


Na minha cabeça ficaram várias frases e olhares arrasadores pertencentes às crianças sobreviventes e aos seus familiares. Pessoas como eu e tu.

"Tenho saudades do Oleg, era o meu melhor amigo. Se pudesse medir em electricidade o quanto ele me faz falta, diria que serias 9 ziliões de volts..."-


"Levaram-nos para outra sala e disseram para não olharmos para trás. Mas eu vi a minha mãe. Quando me voltei sabia que já estava morta. (em casa em frente à fotografia da mãe, junto à qual colocou uma garrafa de água e um chocolate) A água é para a minha mãe, porque quando estava no ginásio pedia-me desesperadamente por água."


"Corria em zig zag para fugir das balas que disparavam sobre as crianças que fugiam. desviei-me de uma, que quase me apanhava, mas acertou na cabeça de um outro rapaz ."


"Faço estes desenhos, porque não me posso vingar de outra maneira (palavras de uma rapariga que desenha terroristas num papel, que depois corta aos pedacinhos e queima)"


"Se pudesse ia à Tchetchénia matar os terroristas que me levaram os meus colegas e as nossas mães.(...) vou querer vingar-me a vida toda."

"Antes Beslan era uma cidade de alegria, as crianças brincavam nos pátios, agora as pessoas têm medo e choram. Beslan é agora uma cidade de luto."

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