o MeU eU e Os OuTrOs EuS (eL mEu Jo I eLs AlTrEs JoS)

junho 02, 2008

História de A.
(conclusão)


As imagens do passado eram como fantasmas que criavam um vazio que jamais conhecera. Não paravam de chegar e partir, conseguindo manchar todas as possibilidades presentes e futuras de uma nova história de amor.

Cada vez que passava pela esquina onde, a altas horas da noite, deram o primeiro beijo, vigilados pelas almas expiadas daquele templo, sentia como se um pedaço de si fosse arrancado, para nunca mais voltar a ser preenchido.
Essa era apenas uma das recordações que para sempre ficariam tatuadas nos vales do seu eu, mas com as quais não poderia continuar a viver, já que alimentavam falsas esperanças, falsas expectativas.
Era altura de aceitar que os seus passos caminhavam agora em direcções opostas. Assim como a heroína de um filme que viram juntos, ao partir em busca de um amor que perdera, não foi bem sucedida, o mesmo passaria com B.
Por mais que sentisse que aquele que sempre esperara estava à sua frente, não o podia obrigar a desempenhar este papel, mesmo depois de ter feito tudo aquilo que estava nas suas mãos.

O amor que sentia sobrevivera ao "não" inicial e a todos os avanços e recuos de A. Ainda assim e apesar de não ter sempre o retorno do que oferecia, B. não desistira.
Depois deste reencontro B. tomou uma decisão. Abandonaria os cenários imaginados e enfrentaria a realidade. Esperar não era o mais acertado. Mesmo não tendo sido fechadas quaisquer portas, mesmo sabendo que um dia havia sido plantada uma semente que naturalmente havia crescido e dado lugar a uma bonita árvore.
Estes eram os pensamentos que acompanhavam os seus passos quando
se deu conta, de já estar em frente ao mesmo templo onde tantas vezes esperou e suspirou pelo amor de A. Nesta altura, senta-se, respira fundo, coloca a mão no bolso e abre o papel que A. lhe havia entregado no final da noite.

"Querido Bruno,
Apesar de todos os meus silêncios, quero que saibas que és muito especial e que nunca menosprezei todo o amor que me deste. Um dia planeámos fugir juntos, para bem longe desta vida por outros desenhada. Sonhámos em pintar os nossos próprios quadros, em esboçar o nosso próprio mundo. Não o chegámos a fazer, talvez por cobardia, talvez porque que não era a altura. Quando leres esta carta ja estarei a caminho desta cruzada. Irei só, mas levar-te-ei sempre comigo. Não esquecerei a tua espontaneidade, o teu sorriso e os teus abraços que tantas vezes me impediram de cair no precipício. Estou certo que não te esquecerás de mim e entenderás a minha decisão. Um abraço dos nossos, Alexandre."

B. levanta-se percorre pela última vez o jardim de tantos encontros e desencontros e entre soluços e suspiros começa a cantar:

"Una casa en el cielo
Un jardin en el mar
Una alondra en tu pecho
Un volver a empezar

Un deseo de estrellas
Un latir de gorrion
Una isla en tu cama
Una puesta de sol

Tiempo y silencio
Gritos y cantos
Cielos y besos
Voz y quebranto

Nacer en tu risa
Crecer en tu llanto
Vivir en tu espalda
Morir en tus brazos"

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