o MeU eU e Os OuTrOs EuS (eL mEu Jo I eLs AlTrEs JoS)

outubro 16, 2008

História de Laia (continuação 4)

O calendário falava por si. Passara mais de um ano desde que recebera a carta de Andreu, à qual nunca respondera, com a esperança de que ignorando-a, aquele nome deixasse de fazer parte da sua vida. A realidade porém, era outra. Não havia uma noite que não sonhasse com ele, nem uma madrugada que não se despertasse com a imagem dos seus lábios proferindo as palavras que apenas havia lido: "quero que saibas que não pude esquecer o teu olhar que tantas vezes revi no azul do mar que me rodeava ou a cor de fogo dos teus cabelos que em cada entardecer pintavam o horizonte."

O importante era que finalmente reunira a coragem que necessitava para procurá-lo. Com a ajuda de Pep, o carteiro da vila, descobrira qual o bairro a que pertencia aquela rua, que afinal era apenas uma mais de tantas outras ruas da cidade que apenas conhecia de nome. A grande cidade para onde muitos dos seus conterrâneos haviam partido, para nunca mais regressar.

O autocarro que a levava já estava a caminho e pelos seus cálculos chegaria a Barcelona ao entardecer. Laia estava profundamente angustiada. Era a primeira vez que saía da vila e temia não só perder-se, como não encontrar quem buscava. Por mais de uma vez, desesperada pela angústia que a consumia, pensou pedir ao condutor que parasse para que pudesse voltar a casa, mas não tinha outra hipótese. Sabia que chegara a altura de tomar as rédeas da sua vida e deixar de ser uma espectadora passiva. Estava cansada de estar à mercê das vontades dos demais. Acima de tudo, sentia que tinha de lutar pela sua felicidade e deixar a penumbra daquela vila que um dia deixou partir o único homem que amara.

Durante a viagem, foi visitada por pensamentos e dúvidas que por mais que a assustassem não afastavam a unica certeza que tinha. Ainda que fora a última coisa que fizesse tinha que o procurar e declarar-lhe todo o amor que por ele sentia. Ao partir Andreu levara uma parte de si que nunca mais voltou a encontrar. Depositara neste estranho marinheiro todas as promessas e esperanças do amor com que desde menina sonhara. Um amor aventureiro, romântico e digno de um qualquer romance.

O que não podia esquecer era que ao mesmo tempo que entregara o coração ao homem que vira apenas uma vez, atraiçoava o de Dídac, aquele que sempre esteve ao seu lado. A forma que encontrou de agradecer toda a sua dedicação fora encontrar-se com ele e confiar-lhe a decisão de partir. Contrariamente ao que pensara, Dídac apoiou-a desde o primeiro momento, afinal quando se ama alguém, deseja-se acima de tudo a sua felicidade e, melhor que ninguém, ele sabia que o lugar de Laia não era em Tossa.

Ao chegar a Barcelona, procurou um táxi que a levasse ao destino tantas vezes imaginado. No caminho não podia deixar de se apaixonar pelo reboliço e pela vida que se sentia em cada avenida, cruzamento ou esquina. Estava tão fascinada por este mundo tão diferente da sua vila natal que nem se deu conta de que chegara ao número 10 do Carrer de Sant Francesc.

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